Ataques e Crises de Ansiedade: Como tratar

A ansiedade constitui uma resposta normal do organismo ao perigo e ao stress. Em situações de exame, pressão no trabalho ou quando a nossa vida está em risco, a ansiedade surge como um mecanismo adaptativo do organismo para resolver/sair da situação em segurança. Passa a definir-se, no entanto, como problema, quando a sua intensidade e duração são desproporcionais ao estímulo que a está a provocar em primeiro lugar.

Causas

Relativamente aos fatores que poderão estar na sua origem, é conhecido um maior risco em pessoas com história familiar de perturbações de ansiedade. Também passar por um trauma ou situação de alto nível de stress, assim como a presença de doença física crónica, constituem grandes indicadores. Existe ainda um forte componente a nível da saúde mental individual, nomeadamente em relação à existência de mecanismos de adaptação e gestão que a pessoa possui para enfrentar as questões do quotidiano.

Sintomas

A pessoa que sofre de ansiedade experiencia medo e antecipação por algo que ainda não aconteceu, encontrando-se num estado constante de preocupação e inquietação.

A ansiedade não só tem um impacto psicológico, como também físico, tendo manifestações ao nível de todos os sistemas do organismo:

  • “boca seca”, dificuldade em engolir
  • Sensação de aperto/desconforto no peito
  • Hiperventilação com tonturas, falta de ar, formigueiros nas extremidades
  • Dor de cabeça
  • Sensibilidade ao som
  • Dificuldade de concentração
  • Náuseas
  • Idas frequentes à casa de banho
  • Dores e desconforto menstrual
  • Tensão e dor muscular, tremores
  • Distúrbios do sono (insónias, terrores noturnos)

Estes fatores podem desencadiar uma forte mudança de comportamentos, tendo um impacto negativo no dia a dia, quer a nível laboral, quer a nível das relações sociais e familiares. É então de extrema importância perceber e identificar a causa subjacente, de modo a adotar medidas para melhorar a qualidade de vida.

Perturbação de ansiedade generalizada

A perturbação de ansiedade generalizada caracteriza-se por um estado constante de ansiedade, preocupação e apreensão que perdura por pelo menos 6 meses. Esta ansiedade não é dirigida a algo específico na vida da pessoa, existe uma preocupação persistente e desproporcional face às circunstâncias da vida, não dirigidas a nenhuma situação em concreto. Todos os aspetos da vida constituem motivo de preocupação: estar doente, ser despedido, ser assaltado, ter um acidente, etc. Esta apreensão é ainda responsável pela dificuldade em adormecer, o que causa ainda maior angústia e agravamento dos sintomas devido à falta de descanso.

Depressão

É muito comum a coexistência da perturbação generalizada da ansiedade com depressão. Por um lado, a ansiedade pode apresentar-se com sintomas depressivos, pensamentos obsessivos e despersonalização. Por sua vez, uma grande parte dos casos de depressão desenvolve também um estado de ansiedade generalizada. A sobreposição destas duas doenças pode ainda dificultar e atrasar o processo de tratamento.

Perturbação de pânico

Ataques de pânico

Um ataque de pânico caracteriza-se por um episódio de medo intenso que se inicia bruscamente sem um estímulo que o tenha desencadeado. A pessoa sente medo de perder o controlo, ter um ataque cardíaco ou morrer. Do mesmo modo, experiencia os sintomas de ansiedade referidos anteriormente, mas de uma forma muito mais intensa. A duração do episódio é variável, mas geralmente dura cerca 10 min.

A perturbação de pânico surge quando os ataques de pânico são recorrentes e não expectáveis. A pessoa vive com um medo constante de ter outro ataque e de morrer, sendo que esse medo começa a alterar o seu comportamento habitual, afetando o seu desempenho quer no trabalho quer na vida familiar e social. Estas crises são percecionadas pela pessoa como “perigosas”, como algo que coloca a sua vida em risco, muito embora estes episódios não tenham qualquer risco do ponto de vista médico. Por este motivo, e tendo em conta o tipo de sintomas, é comum as pessoas com esta perturbação recorrerem frequentemente ao médico por receio de ter uma doença cardíaca ou respiratória.

Agorafobia

A perturbação de pânico pode ainda cursar com outro tipo de perturbação da ansiedade, a agorafobia, que corresponde ao medo intenso de locais com multidões ou isolados, levando a que a pessoa comece progressivamente a evitar sair de casa.

Saber lidar

Estigma

Embora a educação para a saúde mental esteja cada vez mais difundida, persiste ainda um estigma considerável em relação à doença psiquiátrica na sociedade atual. Não só isto constitui um motivo de angústia para o doente e para o modo como encara a doença, como também atrasa o processo de procura por ajuda médica e, consequentemente, do tratamento, facilitando a progressão da doença.

Tratamento

Em relação ao tratamento, é essencial na gestão das crises, sendo que quanto mais atempada for a abordagem, melhor será o prognóstico e mais rápida a remissão. O método mais eficaz engloba a combinação de terapia cognitivo-comportamental com medicação, um antidepressivo.
A terapia cognitivo-comportamental engloba técnicas como a psicoeducação, a reestruturação cognitiva e o relaxamento progressivo com o objetivo de reduzir o medo relacionado com os sintomas físicos da ansiedade. Nos casos de perturbação de pânico ou ataques de pânico, faz também uso de técnicas de simulação do episódio de crise através da hiperventilação ou exercício físico e exposição progressiva a situações agorafóbicas.

Em todo o caso, o tratamento requer obrigatóriamente o acompanhamento de um médico psiquiatra e em determinadas situações também um psicólogo.

Mudança de hábitos

O tratamento tem um papel essencial no controlo dos sintomas, mas os resultados a longo prazo estão altamente dependentes da aprendizagem de comportamentos adaptativos e sua introdução recorrente no quotidiano. Para isso, existem algumas medidas e mudanças de hábitos que podem ser adotadas e utilizadas como mecanismos de gestão de stress e ansiedade:

  • prática de exercício físico, como caminhadas e yoga
  • meditação: aprendizagem de técnicas de respiração que permitem um melhor controlo da frequência cardíaca, pressão arterial e tensão muscular.
  • não descuidar a importância do descanso e de uma boa noite de sono.
  • dieta equilibrada e nutritiva (papel essencial na regulação do humor)
  • evitar café e outras bebidas com cafeína
  • priorizar o contacto com a família e amigos e recorrer, saber pedir ajuda, às pessoas que constituem o seu sistema de apoio na lida de emoções