Dor de cabeça: tipos, causas e tratamento

A dor de cabeça, também conhecida como cefaleia, constitui uma queixa frequente no consultório, sendo um elemento inoportuno e inconveniente presente no quotidiano de muitos adultos.

Perante o sintoma de dor de cabeça, é importante perceber, em primeiro lugar, de que modo é que ocorre: se o início é brusco ou progressivo, à quanto tempo dura e se existem outros sintomas associados. É ainda necessário tentar identificar o que alivia a dor e que possíveis fatores presentes no dia a dia poderão estar a provocá-la (stress, perturbações do sono, ciclo menstrual).

Uma abordagem adequada e minuciosa ao padrão da dor vai permitir a identificação da sua causa e iniciar um tratamento dirigido, com vista a diminuir o impacto negativo da dor no dia a dia e, assim, proporcionar uma melhoria da qualidade de vida.

Cefaleia primária

Cefaleia primária corresponde a uma dor recorrente, sem que exista uma alteração no organismo ou doença que justifique a sua origem. A enxaqueca, a cefaleia de tensão e a cefaleia tipo-cluster/em salvas constituem os tipos de cefaleia primária mais frequentes.

Enxaqueca

Sintomas

A enxaqueca é a 2º tipo de cefaleia primária mais frequente. Tem maior prevalência nas mulheres e surge principalmente em adolescentes e adultos jovens. É ainda conhecida uma maior prevalência em casos em que existe história familiar.

O doente com enxaqueca é particularmente sensível a estímulos ambientais e sensitivos. A enxaqueca pode ser desencadeada ou amplificada por: sons, luz, jejum, stress, sono, álcool e fármacos.

Geralmente, manifesta-se como uma série de ataques repetidos de cefaleias, com 4-72h de duração. A dor de cabeça é latejante e apenas do lado direito ou lado esquerdo da cabeça. Tem uma intensidade moderada a severa e é agravada com os movimentos. É também acompanhada de náusea/vómitos ou sensibilidade à luz/som.

Existem ainda dois subtipos de enxaqueca: com aura e sem aura. A aura corresponde a um conjunto de sintomas neurológicos que podem surgir horas ou dias antes ou durante o episódio de enxaqueca. Ver “luzes” ou linhas em “zig zag”, sentir formigueiros na pele e dificuldade em articular palavras são alguns dos sinais mais comuns.

Tratamento e prevenção

O tratamento da enxaqueca engloba duas componentes: a resolução do episódio atual de dor e o cumprimento de medidas a longo prazo com o intuito de diminuir frequência, gravidade e duração dos episódios:

  • Tratamento da crise aguda: alívio da dor (paracetamol, aspirina, triptanos) e de outros sintomas associados (vómitos – antieméticos); repouso em ambiente escuro e sem ruído.
  • Gestão a longo prazo: hidratação, evitar possíveis fatores desencadeantes e anotar/descrever os episódios num diário da enxaqueca.

Em casos em que a recorrência de episódios é superior a 4 crises por mês, existem ainda algumas opções de tratamento preventivo que englobam medicação específica e ajuda médica.

Cefaleia de tensão

Sintomas

É o tipo de cefaleia primária mais frequente. Manifesta-se como uma dor de cabeça “em aperto”, de ambos os lados da cabeça, podendo afetar também o pescoço. Surge lentamente e persiste durante vários dias. Geralmente é desencadeada e agravada por stress emocional. Ao contrário da enxaqueca, não apresenta aura ou outros sintomas associados.

Tratamento e prevenção

O tratamento engloba analgésicos (paracetamol, aspirina) para controlo da dor. Dado o stress emocional ser o principal fator desencadeante, em situações crónicas poderá ser necessário e benéfico incluir no tratamento um antidepressivo.

Cefaleia tipo-cluster/em salvas

Sintomas

Dor excruciante que afeta apenas um lado da cabeça e da face. Está ainda associada a outros sintomas no lado da face afetado: suor excessivo, olho vermelho, contração da pupila e descaimento da pálpebra. Dura cerca de 1h e pode recorrer várias vezes no mesmo dia (clusters/salvas) e durante dias/semanas. Após cada crise, a dor pode desaparecer durante meses e anos ou constituir um problema crónico e surgir a cada 14 dias de intervalo. É ainda de referir que, ao contrário da enxaqueca, a dor não tem qualquer alívio em ambiente escuro, perturbando significativamente a qualidade do sono.

Tratamento e prevenção

O tratamento da crise aguda efetua-se através de máscara de oxigénio e alívio da dor com analgésicos (triptanos).

O tratamento preventivo de novas crises inclui medicação específica a discutir em consulta médica.

Mudança de hábitos

Independentemente do tipo de cefaleia, é de extrema importância aprender a reconhecer o padrão da dor e sintomas que a precedem, de modo a poder antecipar e proceder a uma melhor gestão de cada episódio.

Existem diversos fatores que podem desencadear os episódios de dor ou agravá-los. Do mesmo modo, existe um conjunto de medidas de promoção de saúde e qualidade de vida que, quando aplicadas e associadas a tratamento farmacológico adequado e ao evitar de fatores nocivos, contribuem para a redução da recorrência e duração dos episódios. Algumas destas medidas englobam: evitar o stress, utilizando estratégias para lidar com essas situações como o exercício físico e a meditação; assegurar a hidratação limitar o tempo de utilização de ecrãs (computador, telemóvel, tablet, televisão) principalmente à noite e ao acordar; evitar café e outras bebidas com cafeína; moderação no consumo de alimentos como chocolate e queijo; evitar períodos prolongados de jejum; não descuidar a importância do descanso e de uma boa noite de sono.

Cefaleia secundária

Cefaleia secundária é quando a dor de cabeça tem uma causa possível de identificar. Esta causa pode ser uma alteração do organismo (desidratação, stress, ciclo menstrual, perturbações do sono, desidratação, medicação) ou pode dever-se à presença de doença ou patologia:

  • Sinusite
  • Otite
  • Problemas dentários
  • Aumento ou diminuição da pressão craniana
  • Meningite
  • Hemorragia cerebral
  • Arterite (inflamação das artérias)
  • Abcesso cerebral
  • Trauma
  • Disfunção da articulação temporomandibular

Por ser um sintoma comum a muitas patologias de gravidade variável, surge a necessidade de prestar maior atenção à presença de sinais de alarme altamente sugestivos de cefaleia secundária, de modo a recorrer de forma rápida e atempada a assistência médica para uma avaliação mais aprofundada, identificação e tratamento da causa:

  • início súbito
  • sentir que é a “pior” dor de sempre
  • vómitos
  • febre
  • perturba o sono/surge ao acordar
  • agravada pelo debruçar, tossir, levantar ou maior esforço
  • agravamento ao longo de dias/semanas

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