A gripe é uma doença respiratória, geralmente causada pelo vírus Influenza, que se apresenta com sintomas respiratórios e sistémicos. Saiba como prevenir e tratar.
Transmissão
O vírus é inalado através de gotículas para as vias aéreas superiores, principalmente através de espirros e tosse, mas também por contacto direto com partes do corpo ou superfícies contaminadas com o vírus através das mãos. Já nas vias aéreas, vai provocar inflamação das mucosas, responsável pelo surgimento dos sintomas. O processo de transmissão é rápido, sendo que o período de contágio tem início 1-2 dias antes do surgimento de sintomas até aproximadamente uma semana depois. De notar que este período pode ser superior nas crianças.
Sintomas
Poderá decorrer um período de incubação de 48-72h antes do início dos sintomas. A gripe manifesta-se através de sintomas sistémicos que se caracterizam por um estado de mal estar, febre, fadiga, dor de cabeça e dores musculares. É a presença destes sintomas que vai permitir diferenciar se estamos perante uma gripe ou outra infeção respiratória, como a constipação. Para além disso, na gripe, os sintomas respiratórios são de maior intensidade e de surgimento mais abrupto. Estes englobam:
- tosse
- congestão nasal (“nariz entupido”)
- espirros
- dor de garganta
- conjuntivite (“olho vermelho”)
- corrimento nasal (“pingo no nariz”)
Crianças
No caso particular das crianças, se estivermos a falar das mais crescidas, os sintomas vão ser semelhantes aos do adulto. No entanto, no bebé, a gripe geralmente apresenta-se com um quadro clínico menos específico, sintomas mais generalizados, não necessariamente respiratórios: náuseas, vómitos, diarreia, sonolência, otites. Nestas idades, é essencial recorrer a ajuda médica se presente algum destes sinais.
Resolução da infeção
Após a infeção, poderá ainda persistir por algumas semanas uma diminuição da função pulmonar no regresso à atividade normal, que se traduz numa redução da performance física e na persistência de sintomas respiratórios, particularmente a tosse, durante dias a semanas.
Assim, se a tosse persistir durante algumas semanas, não é caso para preocupação, não sendo necessário recorrer a ajuda médica. No entanto, se existe febre que não cede, falta de ar ou agravamento da dor de garganta e cansaço, torna-se imperativo consultar um médico.
Surtos
O vírus Influenza sofre constantes alterações a nível genético, tornando-se capaz de adaptar à imunidade da população. Por este motivo, num mesmo momento, coexistem diferentes variações do mesmo vírus e a imunidade proporcionada pela vacina não é duradoura, sendo necessária a toma anual.
Os surtos de gripe surgem durante os meses mais frios do ano, em Portugal particularmente entre dezembro e fevereiro, não existindo nenhum fator capaz de prever com exatidão a sua ocorrência.
Caso ocorra um número de casos de infeção e mortalidade superior ao previsto numa determinada região ou comunidade, passamos a estar perante uma epidemia. O impacto traduz-se essencialmente no aumento das faltas escolares e laborais, com aumento do número de idas às urgências, centros de saúde e internamentos, sobretudo na população mais idosa e em grupos de risco.
Como tratar uma gripe
A gripe resolve-se espontáneamente em alguns dias.
Os antibióticos não devem ser utilizados, pois a sua função é combater infeções bacterianas, o que não se aplica neste caso. Existem fármacos antivíricos, não recomendados por norma, dado não apresentarem vantagem/benefício no tratamento da população geral, estando até associados a um maior número de resistências. Existem, no entanto, indicações específicas para as quais é necessária e essencial a utilização destes fármacos em certos grupos de risco e sempre com indicação médica.
O tratamento da gripe engloba então um conjunto de medidas de controlo de sintomas e minimização do risco de transmissão entre contactos:
- antipiréticos/analgésicos (paracetamol ou ibuprofeno) para controlo da febre, dores de cabeça e dores musculares
- repouso e hidratação frequente (ingestão de líquidos – água)
- soro fisiológico para alívio da congestão nasal
- medir a temperatura ao longo do dia
- evitar sair de casa
- proteger-se do frio, agasalhar-se adequadamente
- espirrar e tossir para o cotovelo ou um lenço de papel, colocando-o em seguida no caixote do lixo
- lavar frequentemente as mãos com água e sabão
É necessário ter especial atenção a utilização de gotas nasais para alívio da congestão nasal, particularmente nas crianças. Xaropes antitússicos ou expetorantes não são aconselhados, existe ainda incerteza quanto à sua eficácia e a sua toma não deve ser realizada sem indicação médica.
Deve existir também um cuidado especial em relação aos medicamentos antigripais, também não recomendados, dado a possibilidade de efeitos adversos ou presença de substâncias ativas que possam interagir com outras condições médicas ou medicação que a pessoa já faz de forma crónica, para além de que não têm eficácia comprovada.
O uso de aspirina para controlo da febre está contraindicado na grávida (risco de malformações e complicações) e na criança (risco Síndrome de Reye).
Prevenção
A principal forma de prevenção da gripe é a vacinação, com uma eficácia de 50-75%. A toma da vacina deve ser anual, antes do pico sazonal, durante o Outono ou Inverno.
Existem grupos de risco com alta prioridade para vacinação, sendo que os seus cuidadores e contactos próximos devem também ser alvos prioritários. A toma da vacina deve ser realizada a partir dos 65 anos, sendo apenas aconselhada se 60-64 anos. Residentes ou internados em instituições de cuidados de saúde, assim como pessoas com doenças crónicas e imunodeprimidos fazem também parte do grupo de risco. Também devem estar incluídos na vacinação os coabitantes e prestadores de cuidados dos grupos referidos anteriormente, assim como grávidas e todas as pessoas em contacto com crianças de <6 meses. Os profissionais de saúde, bombeiros, pessoal de creches, infantários e estabelecimentos profissionais estão também incluídos.
Outras medidas de prevenção a tomar, sobretudo em meio hospitalar, incluem a lavagem frequente das mãos e o uso de máscara.
Complicações
Da gripe resulta não só um aumento do número de mortes de causa respiratória, mas também um aumento do número de mortes por causa cardiovascular, geralmente por agravamento/descompensação de doenças crónicas pré-existentes.
Embora lhe sejam conhecidas diversas complicações a nível dos diferentes sistemas orgânicos, a complicação da gripe mais comum é a pneumonia, havendo um maior risco entre os indivíduos com mais de 65 anos, grávidas, imunodeprimidos e portadores de doença cardiorrespiratória prévia.